sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Passarinhos balbuciam como bebês?

Estudo publicado na «Science» diz que os passarinhos balbuciam como bebés (in Ciência
Hoje)
As aves canoras jovens balbuciam como bebés antes de conseguirem imitar um adulto. A
conclusão é de um estudo conduzido por cientistas do MIT que descobriram que, afinal, o
primeiro momento de aprendizagem não é assim tão diferente entre aves e humanos.
No artigo publicado ontem pela revista científica "Science", a equipa revela que as aves canoras
jovens e as adultas utilizam caminhos cerebrais diferentes no que diz respeito ao canto.
"O balbuciar durante a aprendizagem do canto exemplifica um comportamento de exploração
ubíquo mas que é essencial para aprendizagem por tentativa e erro", explica Michale Fee, autor
sénior do estudo e neurocientista no Instituto McGovern do MIT, nos Estados Unidos.
Segundo os investigadores, as aves canoras praticam incessantemente até conseguirem produzir
o som estereotipado dos adultos. "Esta variação inicial é necessária para que haja aprendizagem.
Quisemos determinar se era produzida por um caminho cerebral adulto imaturo ou por um
circuito diferente", sublinhou o Fee.
Os cientistas analisaram o mandarim, uma ave de pequeno porte que pode ser avistada em
Portugal. Estudos prévios tinham revelado que esta espécie tinha dois circuitos cerebrais
distintos dedicados ao canto, um associado à aprendizagem e outro, conhecido por circuito
motor, dedicado à reprodução do som aprendido.
Segundo os investigadores, se ocorressem algum problema no primeiro circuito enquanto a ave
estivesse em processo de aprendizagem, o canto ficaria para sempre na fase de imaturidade. No
entanto, desactivar o circuito de aprendizagem numa ave adulta não teria qualquer efeito na
capacidade de canto.
Os cientistas partiram do pressuposto de que o circuito motor teria uma importância semelhante
na produção do canto mas não havia até aqui nenhum estudo que demonstrasse esta teoria. Na
investigação agora divulgada, a equipa adaptou técnicas já existentes para desactivar
temporariamente partes do cérebro do mandarim e registar actividade neuronal num espécime
adulto.
Resultados surpreendentes
Quando a equipa desactivou a parte do circuito motor conhecida por HVC nos espécimes
jovens, os passarinhos continuaram a cantar, o que queria dizer que tinha de haver outra região
do cérebro responsável pelo balbuciar.
Os investigadores suspeitaram então que uma componente chave no circuito de aprendizagem,
designado por LMAN, tivesse uma função desconhecida ao nível da função motora e
demonstraram-no ao verificar que, desactivando-o, os pequenos mandarins paravam de
balbuciar. "Isto diz-nos que o canto é conduzido por dois circuitos motores diferentes, nas
diferentes fases do desenvolvimento", explicou Dmitriy Aronov, primeiro autor do estudo.
Os cientistas perguntaram então o que aconteceria ao LMAN na idade adulta, depois de as aves
terem aprendido o canto. Ao contrário do que se pensava, os autores do estudo descobriram que
este mantém a capacidade de produzir o balbuciar mesmo quando a ave já apreendeu os
comportamentos adultos.
Para Michale Fee, este estudo pode aplicar-se a outros comportamentos imaturos, tanto em aves
como nos humanos. "Nas aves, a fase exploratória termina quando a aprendizagem fica
completa", disse. "Mas nós, humanos, podemos estar sempre a invocar o nosso equivalente ao
LMAN, o córtex pré-frontal, para ser inovadores e aprender novas coisas", acrescentou

 

Por que as aves cantam?


Por que as aves cantam?por Luis Navas Cubero
Juiz de canários de Porte e Híbridos / FOCDE2.000

Os naturalistas recusam a idéia de que as aves cantam por causa de seu bom estado de ânimo. Torna-se difícil conciliar uma interpretação excessivamente sentimental do canto das aves. Ao cantar, uma ave está consumindo tempo e energia, que poderiam servir-lhe para procurar alimentos, ao mesmo tempo em que revelam sua presença aos predadores.
As aves teriam deixado de cantar faz muito tempo se o valor de sobrevivência desta manifestação sonora não ultrapassasse os perigos que estão dentro de si.
O canto é tão só um dos elementos no vocabulário das aves. Além disso, cada espécie possui seus próprios gritos: mais de uma dúzia de sons diferentes em muitas espécies, cada um com seu significado próprio.
Às vezes torna-se difícil estabelecer limites precisos entre o canto e o chamado. Mas o canto está relacionado principalmente com a defesa de um território ou com a atração de um companheiro, enquanto o objetivo dos chamados consiste em transmitir outros tipos de informação como, por exemplo, avisar da aproximação de um predador. Os cantos tendem a ser uns complicados arranjos de notas, emitidas de um modo rítmico, na maioria das vezes pelo macho. Os chamados costumam consistir em estrofes curtas de até quatro ou cinco notas, menos agradáveis, pelo menos ao ouvido humano.
Uma ave é capaz de comunicar muitos dados com os sons que articula; pode indicar sua espécie, sexo, identidade individual e inclusive sua condição. Pode desencadear excitação sexual, curiosidade, alarme ou temor em outra ave. Por meio destes sons pode também atrair para um acasalamento ou afugentar um rival. Além disso, pode transmitir informações: onde se encontram alimentos ou onde há um lugar para aninhar.
Também pode avisar aos demais sobre a presença de um predador. Mas, quando canta, a mensagem habitual que a ave transmite é a proclamação de seu território.
Ao iniciar-se a época da criação, existem dois instintos que dão forma à vida de muitas aves: o de estabelecer um território e o de procurar parelha. O canto, em seu caráter de idioma que transmite informação de uma ave a outra, possibilita ambos objetivos.
A maioria das espécies canoras pode distinguir-se umas das outras por seu canto e, aliás, isto constitui uma função vital do mesmo. Enquanto o canto de uma ave revela o sexo a que pertence (geralmente trata-se de machos); só cantam as fêmeas de algumas espécies, como a do pisco-de-peito-ruivo, Erithacus rubecula, já que ambos os sexos mantêm territórios no inverno. O canto se interpreta de modo diferente segundo o sexo. Assim, o mesmo som entoado pelas fêmeas solitárias, refuta os machos intrusos. Mas o canto de uma ave proporciona detalhes ainda mais sutis; mediante variações imperceptíveis na tonalidade, ritmo ou repertório, pode expressar também a identidade individual da ave. Os cantos territoriais são avisos de longo alcance de uma ave a outra. Devem ser fortes e claros para ter eficácia e, logo depois, o suficientemente intensos como para que sejam escutados além dos limites do território.
Como regra geral, quanto menos atraente é a plumagem de uma ave, mais sonoro é seu canto. As aves que vivem e procriam em terrenos com vegetação espessa tendem a cantar com mais força do que as que habitam em zonas abertas. Tendo em conta o tamanho da ave, o canto do carriça, Troglodytes troglodytes resulta incrivelmente penetrante; mas o carriça, Troglodytes troglodytes, que costuma defender um território de um hectare, tem que se fazer ouvir em concorrência com muitas outras aves que vivem nos matas densas.
O canto também deve ser o suficientemente persistente como para ter eficácia, e a isto se deve que as aves repitam suas frases de canto centenas de vezes ao dia. A escrevedeira-amarela, Emberiza citrinella repete seu estribilho uma e outra vez, desde que começa o dia até que anoitece; quiçá tenha "dito" o mesmo mais de mil vezes.
Numerosas espécies elegem poleiros de canto nos lugares elevados das árvores, para assegurar-se de que seu canto abrange a zona mais ampla possível. Outras adicionam um efeito visual a seu anúncio descrevendo trajetórias características no ar. Os cantos em vôo são especialmente característicos das aves terrestres que chocam em terrenos abertos e sem árvores.
É muito raro que as aves rivais recorram ao combate físico, pois o risco de produzir-se verdadeiras lesões é demasiado grande para que represente um modo prático de solucionar um problema. Em lugar disso, desenvolveram uns modos de comportamento com os que obtêm resultados sem expor-se a muitos perigos. Seus cantos territoriais, tais quais suas complicadas exibições ameaçantes, constituem batalhas de nervos e cada ave desafoga a tensão acumulada por meio dos impulsos contraditórios: o impulso à luta e o impulso à fuga. Um pisco-de-peito-ruivo, Erithacus rubecula que se introduz em território alheio tenta fazer o menor ruído possível. Se o proprietário o vê, o mais provável é do que lhe cante com uma especial intensidade.
Costuma fugir imediatamente até seu próprio território; se não é assim, apóiam o canto com posturas agressivas. A seguir pode ter perseguição e, se tudo falha, as aves chegam à luta.
A ave que canta em defesa de seu território presta um cuidadoso atendimento aos cantos das outras que defendem os seus. O pisco-de-peito-ruivo, Erithacus rubecula, por exemplo, detém-se entre cada frase de seu canto, permitindo assim que seus rivais "disputem". Mediante os "duelos" de canto que mantém com seus vizinhos, o ave conhece quem são, onde se encontram seus rivais, se há alguma probabilidade de que lhe molestem ou se pode ignorá-los calmamente.
O canto das aves está intimamente unido à estação em que se emite e, apesar de que algumas delas possam cantar em qualquer época do ano, nunca vociferam tanto como na primavera, quando estabelecem seus territórios. Ao aproximar-se o verão e entregar-se ao acasalamento e a construção de seus ninhos, à postura, à incubação e à criação de seus filhotes, os cantos de muitas espécies se tornam mais intermitentes ou apagados e inclusive cessam do todo. O canto primaveril surge como resposta às modificações que os hormônios provocam no organismo da ave, particularmente o aumento de tamanho dos seus órgãos reprodutores, que se deve ao maior número de horas de luz. No inverno, a maioria das aves emudece e, em general, a chuva e o mau tempo tendem a inibir o canto.
No ciclo diário, tal qual no estacional, a luz é o fator principal que influi no canto. A passagem da noite para o dia produz o mesmo efeito no canto que a passagem do inverno para o verão. São mais aves que cantam durante 20-40 minutos na duração do amanhecer do que as que o fazem durante qualquer momento do dia. Não é fácil alegar uma razão biológica para isso, ainda que exista alguma vantagem em que todas as aves cantem ao mesmo tempo, já que dessa maneira cada uma se inteira do que está sucedendo a seu arredor e onde se encontram seus rivais.
São muito poucas as espécies que cantam continuamente durante o dia; a maioria se apazigua depois da exuberância inicial do amanhecer e se apagam para o meio dia. Aparece um ressurgimento do canto ao entardecer e quase todas as espécies emudecem ao cair da noite. A ave que canta pela noite costuma fazê-lo pela mesma razão que a que canta durante o dia; o chamado da coruja-comum é uma expressão de sua própria identidade e uma citação com seu casal. Mais difícil resulta estabelecer o porquê os rouxinóis cantam tanto de noite como de dia.
As aves também empregam o que poderíamos denominar "avisos e chamados". A maioria das aves vive em perigo constante de ser abatidas por seus predadores. Não pode surpreender, por tanto, que em sua linguagem inclua um sistema de alarme sumamente eficaz contra os predadores. A primeira ave que detecta um perigo em potencial faz soar o alarme que põe sobreaviso a todas que possam ouvi-la.
O perigo pode proceder do ar ou do solo e muitas aves adotam gritos de alarme que distinguem ambas as ameaças. Os alarmes que chamam o atendimento sobre os predadores aéreos costumam ser breves e agudos e constituem um tipo de som difícil de localizar. As aves que ouvem este alarme se dispersam e se escondem. Mas o chamado de alarme, para se opor ao predador terrestre, contém pistas referentes às localizações da ave que o tem detectado e a do predador. Apesar de que o canto de cada espécie tem que ser muito diferente para que não surjam confusões, seus gritos de alarme são freqüentemente muito parecidos. A ave que primeiro detecta uma ave de rapina avisa não só às aves de sua espécie, como também a todas as demais que possam ouvi-la.
As aves geralmente herdam de seus progenitores um vocabulário completo de cantos e notas de chamadas. A papa-amoras-comum, Sylvia communis não precisa nenhuma aprendizagem; ainda que leve toda sua vida sem ouvir cantar uma outra, segue desenvolvendo seus cantos e gritos e cada um seria perfeito em tom, volume, ritmo e qualidade. Isto se demonstrou com experimentos nos quais se criava estas aves num isolamento a prova de sons.
Outras aves possuem a mesma habilidade inata para interpretar os cantos característicos de sua espécie à perfeição, salvo em alguns detalhes. Nestes casos, a aprendizagem completa a tarefa começada pelo instinto. As aves jovens quando estabelecem um território pela primeira vez, seu canto geralmente costuma ser incompleto; mas cedo o remedeiam ao imitar a outros machos que cantam a seu arredor. A aprendizagem por imitação é um dos grandes mistérios do comportamento das aves. Muitas delas incorporam ao seu canto notas de outras e inclusive sons produzidos por objetos inanimados.

Tradução: Juan José Valdone

Vídeo: Curió-canto oito-oito (Alagoas).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Negócio de menino.

 Negócio de menino.                                                                                                                                                                                                                                                                                                

Tem dez anos, é filho de um amigo, e nos encontramos na praia:
- Papai me disse que o senhor tem muito passarinho...
- Só tenho três.
- Tem coleira?
- Tenho um coleirinha.
- Virado?
- Virado.
- Muito velho?
- Virado há um ano.
- Canta?
- Uma beleza.
- Manso?
- Canta no dedo.
- O senhor vende?
- Vendo.
- Quanto?
- Dez contos.
Pausa. Depois volta:
- Só tem coleira?
- Tenho um melro e um curió.
- É melro mesmo ou é vira?
- É quase do tamanho de uma graúna.
- Deixa coçar a cabeça?
- Claro. Come na mão...
- E o curió?
- É muito bom curió.
- Por quanto o senhor vende?
- Dez contos.
Pausa.
- Deixa mais barato. . .
- Para você, seis contos.
- Com a gaiola?
- Sem a gaiola.
Pausa.
- E o melro?
- O melro eu não vendo.
- Como se chama?
- Brigitte.
- Uai, é fêmea?
- Não. Foi a empregada que botou o nome. Quando ela fala com ele, ele se arrepia todo, fica todo despenteado, então ela diz que é Brigitte.
Pausa.
- O coleira o senhor também deixa por seis contos?
- Deixo por oito contos.
- Com a gaiola?
- Sem a gaiola.
Longa pausa. Hesitação. A irmãzinha o chama de dentro d'água. E, antes de sair correndo, propõe, sem me encarar:
- O senhor não me dá um passarinho de presente, não? 


Rubem Braga.

Poema:¨"Um curió no meu coqueiro".

"Um curió no meu coqueiro" Melissa Luchi
Um curió pousado
Sobre as palmas de um coqueiro.
Eu olhava, admirava,
Pensando o que ele procuraria lá.
Lá no alto, entre ramos, cocos e tudo mais
Ele construía um ninho
Pra se proteger dos temporais.
Na mata procurava abrigo.

Infelizmente não achou.
No coqueiro do meu jardim
Entendi o que ele ansiou.
Nas tardes de calmaria,
Ele descia e colhia folhas secas,
Ramos, galhos e muito amor.
Eu olhava, admirava da janela.
Tentando entender que "coisinha" era aquela.
Corria, eu via seu vulto.
Voava na imensidão do meu céu,
Sim, era meu céu; meu jardim.
Ele regava minhas flores,
Espalhava alegria em mil cores
Que eu só encontrei quando cheguei ali.
Hoje, filhotes já crescidos,
Espalham novas fragrâncias pelo ar.
Eu despercibidamente acompanhara
Uma melodia que me ensinara,
O verdadeiro sentido de amar.

Vídeo: Curió canto Florianópolis.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Hibridismo & Mestiçagem

Hibridismo & Mestiçagem

Introdução
O hibridismo é o cruzamento de indivíduos de Gêneros diferentes, e o produto deste cruzamento recebe o nome de Híbrido. Quando os produtos destes cruzamentos apresentam comportamento reprodutivo semelhante aos das espécies que lhes deram origem e apresentam-se férteis, dizemos que são Mestiços.
A hibridação não se constitui um fato novo, nem mesmo uma descoberta de laboratório ou algo parecido, ela ocorre na natureza e se constitui um fenômeno espontâneo. A hibridação espontânea é provocada pelo desequilíbrio entre o número de indivíduos machos e fêmeas de determinado Gênero (escassez de um dos sexos) este fato tem levado ao surgimento de hibridações espontâneas como forma de preservação natural encontrada pelas espécies ameaçadas.
Temos observado na Mata Atlântica do Sul da Bahia o surgimento espontâneo provocado por desequilíbrio do meio ambiente de indivíduos Híbridos ou Mestiços dos Gêneros (Oryzoborus X Sporophila). Este surgimento é intenso em regiões em que a captura do Chorão macho (Sporophila leucoptera) mediante a prática predatória da "Pegada" provocou uma sensível redução dos machos desta espécie, levando as fêmeas em abundância a buscarem outras alternativas de reprodução, dentre elas, os Curiós (Oryzoborus angolensis) como forma de continuação do processo reprodutivo deste gênero.
A hibridação espontânea tem sido muito observada na natureza. Particularmente acho muito importante estas ocorrências do ponto de vista do surgimento de uma descendência com maiores condições de sobrevivência ao meio ambiente, que sofre mudanças constantes devido à ação do homem. Estas descendências, por serem mais resistentes, suportam melhor o meio ambiente que as geraram, podendo dar origem a uma nova espécie bem mais desenvolvida. Cada indivíduo envolvido na hibridação possui um conjunto de genes diferentes que são combinados em um novo ser, dando origem a uma nova genética diferente da de seus pais. Muitos embriões híbridos não se desenvolvem, aparentando falta de interatividade entre as combinações gênicas das espécies que os geraram, no entanto outros o fazem muito bem, inclusive superando as condições desfavoráveis, competindo mais tarde em condições de resistirem ao meio ambiente com as espécies que os geraram, principalmente por serem bem mais resistentes.
Os trabalhos de hibridação com o Curió tem sido muito pouco divulgados, acredito que por suas limitações, ou sejam: falta de compatibilidade genética entre os pares, quanto à possibilidade de acasalamento dos indivíduos de Gêneros diferentes; aceitação de um pelo outro, bem como os autos índices de mortalidade dos embriões durante a fase de desenvolvimento por incompatibilidade gênica dos pais. Apesar destas dificuldades, divulgaremos neste artigo as técnicas empregadas com sucesso na hibridação do Curió X Chorão (Oryzoborus angolensis X Sporophila leucoptera) e Curió X Caboclinho (Oryzoborus angolensis X Sporophila bouvreuil). Informo ainda ter conhecimento da prática de hibridações entre Curió X Coleiro-do-brejo (Oryzoborus angolensis X Sporophila collaris collaris).
Embora o IBAMA não recomende a prática das hibridações, e o faz alegando que os pássaros devem permanecer em domesticidade da mesma forma em que se encontram em vida silvestre, negando a estes extraordinários híbridos o competente registro, e ignorando a contribuição que os mesmos vem dando a genética das Criações Amadoristas, muito se tem feito no tocante à incorporação de genes portados pelos distintos gêneros envolvidos nas hibridações.
Pelo exposto, tenho praticado e recomendado à hibridação como forma de aprimoramento e construção genética do "Curió Doméstico", pois através desta prática podemos incorporar à genética do Curió genes capazes de dota-lo de características desejáveis e em percentuais de sangue adequados a externarem os ditos caracteres.
A hibridação, em última análise, nos permite dotar um determinado indivíduo de caracteres não possuídos originalmente por uma das espécies envolvidas nos cruzamentos, poupando-nos tempo e investimento em cruzamentos seletivos aonde se buscam a seleção dos indivíduos portadores de características desejáveis para através de cruzamentos dirigidos fixa-los à prole por hereditariedade. Vale ressaltar que muito se tem a aprender nesta área. A grande incidência de indivíduos não férteis ou temporariamente nestas condições se constitui uma grande limitação ao avanço das hibridações aqui referidas, contudo, esperamos conhecer melhor todos os aspectos envolvidos nas hibridações no sentido de minimizar as dificuldades hora existentes em relação à fertilidade dos F1 (Indivíduos portadores de ½ sangue de cada gênero, envolvido no cruzamento).
Método Para Prática do Hibridismo - Imprinting
É de fundamental importância o conhecimento dos mecanismos que imprimem nos pássaros as características de sua própria espécie. Eles precisam conhecer o seu padrão de comportamento e isto incluem aspectos instintivos e até mesmo, aspectos sociais aprendidos no convívio com os seus semelhantes.
É necessário que cada pássaro forme a sua própria identidade, mediante o aprendizado dos hábitos e costumes de sua espécie, para que se comporte como tal. Dentre estas características encontramos o canto como sendo uma das mais importantes, no entanto, não é o canto a única característica comportamental que irá definir determinado pássaro em relação ao padrão de sua espécie.
É que diversos pássaros vetorizam o canto de outras espécies e os adotam para o resto de sua vida, sem que a ela pertençam. É nesta capacidade de aprender o dialeto de outras espécies, bem como a aquisição de seus costumes, que a natureza em certos casos tem garantido a preservação das espécies. Contudo, é fundamental que determinado pássaro adquira os conhecimentos necessários a definir-se como sendo desta ou daquela espécie, e sabemos que o canto por se só não os define, portanto os pássaros devem adquirir um conjunto de conhecimentos capaz de formarem a sua identidade mediante o mecanismo conhecido como Imprinting, que nada mais é que a estampagem na mente destes comportamentos.
O Canto & a Côrte
Sabemos que no ritual de acasalamento o cortejamento da fêmea pelo macho é feito mediante o uso de elementos sonoros, o canto é aliado às exibições da plumagem e posturas em que o macho exibe a sua plumagem efetuando uma espécie de dança nupcial. Este comportamento sexual é especifico de cada espécie cujo grau de exigência da fêmea é tão maior quanto maior for à capacidade do macho em exibir os seus dotes pré-nupciais no qual é reconhecido e aceito pela fêmea. O sucesso da corte está intimamente ligado ao seu bom desempenho, quanto ao uso eficiente destes elementos, aonde o canto desempenha papel fundamental.
Imprinting & Cortejamento
No Hibridismo é indispensável que os dois gêneros distintos que se pretende a reprodução, sejam dotados de afinidades genéticas para que ocorra a fecundação do ovo, e mais, é fundamental que a côrte do macho seja aceita pela fêmea como sendo de seu próprio gênero, e isto envolve a aceitação do canto do macho pela fêmea no caso desprovida de reação sexual para aquele canto, que é de outro gênero.
É indispensável que ambas as espécies envolvidas em acasalamentos híbridos possuam o mesmo Imprinting, caso contrário à corte não será aceita pela fêmea de gênero diferente que, exigirá a corte de sua própria espécie e isto envolverá a troca do canto do macho pelo canto do gênero da fêmea ou a aceitação desta pelo canto do gênero do macho.
O plantel para hibridações deverá ser composto por dois ou mais gêneros distintos que se pretende reproduzir, sendo que estes gêneros deverão possuir o mesmo Imprinting, caso contrário, não ocorrerá a aceitação da corte entre eles, inviabilizando todo o processo de hibridação.
Gêneros Distintos Dotados do Mesmo Imprinting
Para a prática da hibridação, necessitamos produzir previamente indivíduos dotados de Imprinting distinto dos da sua espécie e iguais aos da espécie que queremos acasalar. Sem esta providência, não ocorrerá à aceitação da corte por parte da fêmea e conseqüentemente a cópula. Para a obtenção de indivíduos pertencentes a gêneros distintos, contudo, dotados do mesmo imprinting, procedemos da seguinte maneira:
1. Escolhemos de qual gênero será a matriz utilizada entre os gêneros envolvidos nos acasalamentos. Os critérios de escolha serão sempre levando em conta qual dos gêneros envolvidos nos acasalamentos possuem matrizes dotadas de extrema docilidade e dedicação com a prole e tenha como característica uma seletividade alimentar ampla e diversificada para que possamos garantir com maiores chances a cria da prole.
2. Definido o gênero da matriz a ser usado nos cruzamentos, exemplo: Fêmea de Chorão (Sporophila leucoptera), precisa que esta aceite a corte do Curió (Oryzoborus angolensis) que é de gênero diferente. Para que aja a aceitação da corte do Curió pela Fêmea de chorão é necessário que esta tenha adquirido previamente o Imprinting do Curio, sendo assim a corte terá a sua eficiência reconhecida e a cópula ocorrerá normalmente resultando deste cruzamento indivíduos dotados de 50% de sangue de cada Gênero distinto, logo, será um Híbrido.
Criação de Imprinting de Gênero Diferente.
Para obtenção de fêmeas de chorão ou qualquer outro gênero com Imprinting de Curió procedemos de duas maneiras distintas:
1. Colocamos os ovos do Chorão para serem incubados por fêmea de curió que crie com a presença do macho na mesma gaiola ou viveiro em plena harmonia. É necessário que os filhotes de chorão sejam tratados por ambos (macho e fêmea de Curió) para que se estabeleça na prole o Imprinting do gênero do Curió em ambos os sexos. Quando da apartação, os filhotes de Chorão já pialam de Curió e o surgimento do canto do Curió no filhote macho de Chorão ocorrerá tão logo se cumpra o "Período do Corrichar" principalmente se ocorrer Vetorização Dirigida do canto portado pelo Padreador Curió, que será usado mais tarde no acasalamento com a fêmea de Chorão. Estes cuidados aumentará o grau de eficiência do Cortejamento já que o Curió macho aceita Copular com qualquer fêmea de qualquer gênero desde que esta aceite a sua corte. Devemos durante todo o tempo em que manejamos os filhotes de Chorão dotados de imprinting de Curió evitar que tenham contato auditivo e visual com a sua espécie de origem genética sobre pena de corrermos o risco de perder todo o trabalho com o abandono do imprinting de Curió pelos filhotes que poderá faze-lo de imediato ou progressivamente com o decorrer do convívio.
Ao atingirem o amadurecimento sexual, as fêmeas de Chorão estarão aptas a serem cortejadas pelos Curiós, bem como o Chorão macho dotado de canto de Curió poderá com certa dificuldade ser aceito por fêmeas de Curiós jovens.
2. Após o nascimento dos filhotes de Chorão, encubados por mãe Chorona, transferimos os filhotes para "Amas" do Gênero Curió. Quanto mais sedo ocorrer esta transferência, maiores serão as chances de sucesso, em especial se utilizado como "Ama" um casal de Curiós. Não sendo possível, devemos manter próximo aos filhotes em regime de "Ama" um Curió vocalizando o dialeto do futuro Padreador. Todos os demais aspectos citados anteriormente se aplicam ao sistema com o uso de "Amas".

Todo o método aqui descrito se aplica aos mais variados Gêneros desde que possuam compatibilidades Genéticas entre os Gêneros a serem utilizados. Vale a pena ressaltar que da mesma forma que alguns Curiós trocam de dialeto (Cabeças Moles) algumas fêmeas por escassez do espécime macho de seu gênero trocam de imprinting espontaneamente. Para tanto, basta que não mais escutem o canto conhecido como sendo do seu Gênero. Informo ainda que um número significativo de fêmeas jovens do Gênero Sporophila quando mantidas em criadouros do Gênero Oryzoborus trocam espontaneamente de imprinting como forma de preservação da sua espécie, fato constatado também na natureza quando ocorre a escassez do macho.
Cruzamentos Com F1-Híbridos (1/2 Sangue)
Ao obter-se indivíduos dotados de ½ sangue de Gêneros distintos, teremos cumprindo a primeira etapa da hibridação. Em seguida, prosseguimos com os cruzamentos dos F1-1/2 sangue com fêmeas de Curió para incorporação de genes responsáveis pelos alguns dos aspectos desejáveis de um Gênero no outro. A incorporação do timbre vocal e andamento melódico do Chorão (Sporophila leucoptera) no canto do Curió (Oryzoborus angolensis), foi conseguido desta forma, mediante a incorporação dos percentuais de sangue ideais para estas fixações no genótipo do novo Curió. Salientamos que os indivíduos F2; F3 etc. são únicos, produzidos em ambiente doméstico e só diferem dos que lhes originaram na qualidade genética que possui, com aprimoramento dos aspectos mencionados e mantendo o mesmo Fenótipo do Curió como conhecemos.
Muito se tem ainda para estudar nesta direção, contudo a falta de estímulo provocado pela não regulamentação e registro no IBAMA dos espécimes resultantes de hibridações, vêm colocando a margem da legalidade todo um trabalho de suma importância. Necessário se faz que todos os criadores praticantes de hibridações em seus mais variados níveis efetuem registros detalhados de seus cruzamentos para que não se percam informações que, sem dúvida, num futuro bem próximo, serão de grande valia para o conhecimento Ornitológico.
Transcrevo trecho pertencente a E-mail enviado ao grupo de discussão ornitofilia@grupos.com.br pelo Ornitólogo Roberto São Manoel, onde de forma objetiva define a questão.
"Os cruzamentos domésticos de espécies diversas não interessam e não devem interessar ao IBAMA, posto que não é tratado em nenhuma lei, já que se tratam de espécies novas, que não fazem parte da fauna silvestre, não estão em rota migratória, não pertencem ao meio ambiente e não se caracterizam como Recursos Naturais".
Acho prematuro definir neste momento uma visão de futuro, contudo, se todos nós Ornitólogos brasileiros nos dispusermos a trabalhar, quem sabe seja este os novos caminhos que nos levará aos "Novos Tempos".

Agradecimentos ao Autor: Dr. Gilson Barbosa - BA
gilsonferreirabarbosa@hotmail.com
Fonte: http://www.cantoefibra.com.br/