sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Treinamento

 Quando o objetivo é apresentar nossos pássaros em torneios, seja qual for a modalidade, devemos dedicar-lhes manejo específico, de forma a que possam expressar todo o seu potencial.
        Mesmo a atividade reprodutiva necessita de alguma preparação do curió para que desempenhe a função de galador.
Nessas atividades pouco vale a máxima do "o que é bom nasce pronto".

        Preparação do galador
        Quando desejamos empregar um curió como reprodutor é importante que o apresentemos às fêmeas, por alguns instantes, desde quando for pintado ou maracajá. Dessa forma, ele irá despertando a libido, perdendo a timidez e desenvolvendo o hábito de cantar para cortejar a fêmea.
        É importante encostar sua gaiola em uma gaiola criadeira vazia, ambas com os passadores abertos. Dessa forma ele adquirirá a habilidade necessária para passar de uma gaiola para outra com desenvoltura.

        Em um segundo momento, devemos colocar uma gaiola com uma fêmea encostada a outra gaiola criadeira vazia. A gaiola do nosso futuro galador será encostada na criadeira vazia, com os passadores abertos, mas separada por uma divisória. Quando retiramos a divisória ele poderá passar da sua gaiola para a criadeira vazia, buscando a aproximação com a fêmea que estará no outro lado.         Deverá adquirir desenvoltura nessa passagem para a gaiola criadeira, retornando posteriormente para sua.

        Outro recurso empregado por alguns criadores é manter, durante a época da muda de penas, quando os pássaros estão frios, o seu futuro galador com uma fêmea, em um gaiolão maior, do tipo voadeira. Dessa forma ele acostuma com a presença da fêmea no mesmo ambiente. Aprende a evitar os pequenos desentendimentos, fugindo de quaisquer atitudes mais agressivas das fêmeas.
        É importante que, ao adotar tal prática, não escolhamos uma fêmea muito agressiva, pois o efeito poderia ser a intimidação do futuro galador.

        O momento da primeira cruza é decisivo para o futuro do curió como reprodutor. A fêmea escolhida deve ser de excelente temperamento e dócil por ocasião da cópula. A fêmea inexperiente, que nunca tenha sido galada ou cujo temperamento se desconheça deve ser evitada. Se for agredido na primeira tentativa poderá ficar intimidado e nunca voltar a galar.
        É comum que curiós galem ainda maracajás ou mesmo pardos, mas dificilmente são aceitos pelas fêmeas antes de adquirirem a definitiva plumagem de adulto.
        Se tiver sucesso, será galador para sempre. Com a prática melhorará suas habilidades.

        Preparação para as rodas de fibra
        Esse trabalho já começa com a seleção dos filhotes com maior aptidão para fibra. Quando os filhotes ainda estão reunidos em gaiolões já é possível identificar os machos dominantes. Corrichiam mais que os outros e de forma intimidatória. Demarcam territórios para si. Expulsam os demais filhotes quando estão no comedouro, no bebedouro ou na banheira. Escolhem para si as melhores posições nos poleiros.

        Durante todo o período da criação, especialmente durante os banhos de sol, devem ser dispostos de forma que possam ver outros curiós. Dessa forma acostumam a cantar de cara, sem intimidar-se com a presença dos outros.
        Mudanças de ambiente e passeios são importantes para desinibi-los. Passeios em locais onde existam brejos são muito apreciados pelo curió. Visitas a outros criadores onde possa ouvir curiós cantando e, preferencialmente, onde possa envolver-se em disputas de canto, colaboram para o seu desenvolvimento.
        Quando já estiverem pretos, poderão frequentar as badernas (disputas reunindo vários curiós para treinamento). Devem ser posicionados inicialmente a certa distância do local onde estão reunidos os curiós em disputa de canto. Na medida em que demonstrem segurança, cantando com desenvoltura, devem ser aproximados dos demais. Esse manejo deve prosseguir até que ele cante com desenvoltura, enfrentando curiós em gaiolas próximas. Quando estiver reduzindo o volume de canto deve ser retirado do local.

        A próxima etapa é a mais complexa e importante para o sucesso do curió nos torneios: o acasalamento. O curió sem fêmea, se tiver aptidão para as disputas de fibra, cantará com desenvoltura na roda. Irá, no entanto, diminuir progressivamente a quantidade de cantos. Os torneios são um grande desafio. A roda começa normalmente às 8h e a última marcação pode acontecer após o meio-dia. Nessas circunstâncias, o efeito fêmea é fundamental para incentivar o curió a se manter motivado para a disputa.

   O primeiro desafio será encontrar uma fêmea com a qual se afine. Em ambiente isolado, a fêmea que se deseja acasalar deve ser mantida colada a sua gaiola, separada por uma divisória, de modo que se escutem sem se enxergarem. Quando o curió gosta da fêmea, muda seu comportamento. Produz emissões sonoras características, como se fossem filhotes. Muitos chamam esse comportamento de chiar rato. O casal troca pialados e é possível observar o mútuo interesse. Não há regras. Alguns preferem fêmeas mais ativas, que constantemente emitam as notas chamadas quem-quem. Outros preferem fêmeas chamadeiras, que somente emitem pialados. Há outros ainda que rendem melhor quando acasalados com fêmeas que não emitem nenhuma nota. Quando estão acasalados, ao serem afastados um do outro, ficam trocando chamados e alteram o comportamento, tornando-se mais agitados. Se nada disso aconteceu, é hora de trocar a fêmea e reiniciar o processo.
        Se o acasalamento deu certo, todo o manejo do curió deve ser acompanhado da fêmea. Passeios, visitas a brejos ou disputas de canto em outros criatórios devem ser feitos com a presença da fêmea. Sempre sem que um enxergue o outro, mas de modo a que possam trocar pialados.
        O pássaro competidor deve permanecer em voadeira para manter sua capacidade aeróbica na condição ideal, sendo transferido para a gaiola de passeio apenas por ocasião de manejo. A fêmea, em sua gaiola, fica separada do gaiolão do macho por uma divisória de madeira ou plástico, que tenha uma pequena janela. Quando a janelinha da divisória estiver aberta, o casal pode se enxergar.
        Alguns curiós rendem melhor quando ficam mais tempo vendo sua fêmea através da janelinha da divisória. O tempo varia de alguns minutos até a noite inteira, quando é véspera de disputa. Já vimos curiós que ficam ao lado da fêmea, sem divisória alguma, durante a noite que antecede ao torneio, e apresentam grande desempenho. Outros, com o mesmo manejo, ficam saturados de fêmea e não rendem no dia seguinte. O método para encontrar a melhor possibilidade é o da tentativa e erro. Cada curió é um caso diferente.

    Há curiós que são separados de suas fêmeas e rapidamente acasalam com outra. Há outros que quando separados nunca mais apresentam bom desempenho. Há curiós que, mesmo durante a temporada de torneios, são empregados como galadores, cobrindo outras fêmeas do plantel, sem que isso altere o seu desempenho. Há outros que se escutarem uma fêmea pedindo gala ficam passados de fêmea, apresentando queda de desempenho. O pássaro competidor não deve galar a fêmea acompanhante em nenhuma hipótese. Quando isso ocorre, normalmente o desempenho do casal nunca volta a ser o mesmo.
        Acertar um casal competidor não é tarefa fácil. Muitos criadores e mantenedores não conseguiram acertar um curió e depois de esgotadas todas as alternativas, se desfizeram dele, para reencontrá-lo conquistando troféus com outro proprietário. A disputa de fibra é assim mesmo. O que dá certo para um, não é garantia de resultado para outro.
        Quando um curió de fibra muda para a posse de outro criador, dificilmente apresenta o mesmo desempenho. Ou melhora ou piora, mesmo quando o cedente informa todos os detalhes do manejo adotado. 

         Treinamento para a estaca de canto clássico
        Em um torneio de canto, pássaros não são julgados e sim as apresentações. Daí que um curió reconhecidamente superior poderá, em um dia de apresentação deficiente, ser superado por outros com qualidade de canto inferior.

        A apresentação do curió será efetuada em um tempo de 5 minutos, nas instalações destinadas às apresentações dos pássaros de sua modalidade de canto e na hora em que for chamado. Muitas vezes o curió não está em um bom momento ou estranha as instalações e compromete sua apresentação.
        É necessário um trabalho de condicionamento.

        Inicialmente no local onde o pássaro vive. Deve ser mantido encapado. Deve ser mudado de local e a capa da gaiola deve ser retirada algumas vezes. Se cantar dentro de um intervalo de 5 minutos, devemos deixá-lo cantar por algum tempo, até que comece reduzir o volume de canto. Se não cantou, ao final dos 5 minutos deve ser novamente encapado e guardado.

 Quando já estiver bem condicionado, cantará na retirada da capa.

        Uma segunda fase do condicionamento para os torneios implica deslocá-lo encapado para locais desconhecidos do pássaro. Repetir o procedimento da primeira fase. Cantou nos 5 minutos, deixá-lo cantar até que comece a reduzir o volume de canto. Não cantou após 5 minutos, encapá-lo e guardá-lo. Neste manejo é desejável o emprego de uma estaca articulada, para facilitar o manejo em local aonde não exista possibilidade de pendurar sua gaiola. Mas a estaca móvel não deve ser usada em todas as oportunidades, pois há risco de o curió ficar condicionado à estaca.

        Essa fase do condicionamento, embora fundamental para ótimas apresentações, é muito arriscado para a conservação da qualidade do canto. Os curiós são hábeis imitadores e incorporam com grande facilidade novos elementos ao seu canto. Os locais devem ser escolhidos com critério e os treinamentos realizados com parcimônia.


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